Rede de psicólogos da Prefeitura atende profissionais da saúde que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus

Rede de psicólogos da Prefeitura atende profissionais da saúde que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus

O atendimento é feito por grupo de apoio via Whatsapp e destinado a médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais

Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem; e todos os demais envolvidos com a área da saúde estão na linha de frente do combate à covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Além de estarem mais expostos à doença, também precisam enfrentar as dificuldades em lidar com vidas e sentimentos pessoais em meio à pandemia.

Para ajudar quem cuida da população, foi criada uma rede de apoio psicológico, a plataforma conecta os psicólogos da Prefeitura de Linhares com os profissionais da saúde que estão na linha de frente da pandemia.

O projeto nasceu a partir da mobilização dos psicólogos que se preocuparam com essa parcela de profissionais. Desde que foi criada, a rede de apoio psicológico atende a cerca de 30 profissionais durante todos os dias da semana.

Os atendimentos são online, gratuitos e pontuais. A rede funciona da seguinte maneira: quando a conexão for feita, a equipe responsável vai enviar aos profissionais de saúde inscritos um WhatsApp com um link e orientações. A partir desse movimento em grupo, a medida que surge uma necessidade mais intensa será  agendada uma consulta online.

Rede de Apoio Psicológico

A iniciativa nasceu a partir da vivência dos próprios psicólogos, que começaram a receber em seus consultórios relatos de angústia e medo de trabalhadores da saúde. De acordo com uma das psicólogas do projeto, Jamilly Pratissoli, os profissionais de saúde tem uma probablidade maior de de desenvolver depressão e podem precisar de suporte e intervenções psicológicas.

 “Numa situação de crise, este profissional acaba perdendo as balizas do cotidiano dele. Do que ele acredita. E num atendimento pontual, a gente pode tentar recuperar algumas delas. E isso o ajuda a se movimentar no meio caótico em que está trabalhando”, explica a psicóloga. “É como se a pessoa tivesse que recuperar algo de si muito fundamental para poder continuar. E é isso que uma escuta pontual se propõe a fazer”, completa.

O secretário municipal de Saúde, Saulo Meirelles, acredita que a iniciativa tem um grande potencial. “Profissionais da saúde estão entre nossos grandes heróis na linha de frente. E não estamos falando apenas dos médicos, mas também dos enfermeiros, técnicos de enfermagem, dos recepcionistas e profissionais de limpeza de unidades de saúde e do HGL e de todas as pessoas envolvidas para que o sistema continue funcionando”, explica.

Quais as angústias dos profissionais de saúde

De acordo com os psicólogos, as angústias e preocupações dos profissionais de saúde são singulares. “Apesar de toda sociedade estar passando por dificuldades semelhantes, tais profissionais passam por conflitos pessoais e éticos de modo acentuado. Poder escutá-los em suas angústias tão legítimas, pode fazer com que se sintam amparados”, alerta Valéria Fiorot, que também atua na rede de apoio psicológico.

Segundo ela, enquanto alguns podem (e devem) ficar em casa, eles precisam trabalhar. “Muitas vezes sem contar com uma rede de apoio pessoal e tendo que tomar decisões cotidianas que se tornam difíceis, como com quem deixar os filhos ou quem cuidará dos pais desses profissionais. Além de pensarem no quanto precisarão eventualmente fazer escolhas difíceis em relação aos próprios pacientes e o quanto isso trará de sofrimento para eles. Há uma clara oscilação entre o heroísmo e a impotência”, diz Valéria.

No entanto, o recado principal deveria ser de que tudo vai passar. “Os profissionais da saúde, assim como todos nós, devem ter em mente que isso vai passar. Que por pior que esteja sendo o momento vivido, ele passa. Não sem deixar marcas, não passaremos impunes a essa pandemia.  Momentos traumáticos congelam o tempo, precisamos resgatar essa dimensão, haverá um amanhã”, desvenda a psicóloga Jamilly Pratissoli.