Mulher! Mulher!

De início, uma confissão bem plural: nunca fui de diminuir os valores confessos e inconfessos das mulheres – sim, há valores inconfessos em todas as mulheres. Algum problema? O inconfesso surge como virtude, afinal a vida é uma profusão de caminhos. Sou grato (gratíssimo!) ao universo feminino que dispõe de tantas oferendas, mesmo aquelas ditas "tentadoras". Não sou tão conservador ao ponto de admitir uma fartura de anjinhos conduzindo todas as mulheres do mundo – isso seria pura pieguice.


A condição humana é interessante diante de suas belas contradições. O Magnificat (também conhecido como Canção de Maria) é um cântico entoado (ou recitado) frequentemente na liturgia dos serviços eclesiásticos cristãos. É o instante em que a mulher é celebrada em plenitude. Algo atemporal.

E ponho a me lembrar de uma frase de Leon Tolstoi, talvez o maior dos escritores russos, autor do clássico Guerra e paz, que, numa taberna de sua cidade natal, deixou escrito: "Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil". Além de sua notoriedade como escritor, Tolstoi ficou célebre por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos escritos e ideias melindravam igrejas e governos, pregando uma vida bucólica e em proximidade com a natureza. Foi um eremita, espécie de santo num mundo governado por czares e sacerdotes ortodoxos.


Travei as muitas batalhas da vida sempre sob fiança de grandes mulheres. Tive e tenho grandes irmãs. Minha mãe carregava a generosidade das Mulheres de Atenas de que falava Chico Buarque em composição homônima: "Mirem-se no exemplo / daquelas mulheres de Atenas / vivem pros seus maridos / orgulho e raça de Atenas / quando amadas se perfumam / se banham com leite, se arrumam / suas melenas / quando fustigadas não choram/ se ajoelham, pedem imploram / mais duras penas, cadenas (…)


Lembro-me de que, quando minha vovó morreu, caiu um silêncio enorme de saudades sobre nossa morada. Era como se fosse uma barra de silêncio perpétuo. Papai me acariciava e dizia palavras de conforto; em certo momento, completou para um seu irmão: "Nossa mãe tinha os vultosos instantes das grandes mulheres". As décadas se encarregaram de explicar o tino de meu pai em relação a sua mãe. Tive o privilégio de receber canduras e anúncios fabulosos sobre mulheres. Apaixonei-me por uma que é puro frescor!


A humanidade costuma esmerar-se. A ideia da existência de um dia internacional da mulher nasce na guinada do século 20, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão de obra feminina, em massa, na indústria. As condições de trabalho, frequentemente deletérias e ameaçadoras, eram causas de protestos por parte dos operários.


Deus me deu o privilégio de pouco saber sobre as mulheres. Isso é bom num mundo em que todos adoram entrar nos muitos segredos femininos. Que Deus salve as mulheres, aqui e alhures. É um privilégio tê-las neste mundo tomado de sobressaltos. Por último, uma ressalva do poeta: Quem não compreende um olhar profundo de uma mulher tampouco compreenderá as vastas razões do viver.

Secretário Municipal de Cultura e Cronista – Antonio Bezerra Neto