Serlihges e Prefeitura celebram o Centenário de Tia Dulce Pestana nesta quarta (12)

A artista linharense Dulce Campos Pestana, carinhosamente conhecida por todos como Tia Dulce, completaria 100 anos nesta terça-feira (12). Em homenagem ao centenário da artista, a  Seccional Regional de Linhares do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (Serlihges) e a Prefeitura de Linhares, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, irão celebrar a data com uma programação que terá como endereço a Rua da Conceição, local onde Tia Dulce residiu por toda a vida. O evento está marcado para começar às 19 horas em frente ao centro Cultural Nice Avanza.

Segundo o secretário de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, Ivan Salvador Filho, a celebração é um resgate da importância cultural que Tia Dulce tem para o cenário artístico do município e ainda uma forma de perpetuar e ampliar a sua história para as novas gerações. "O Centenário tem o objetivo de valorizar ainda mais a artista que Tia Dulce sempre foi e o seu amor e carinho por Linhares", destacou o secretário. Ele ressalta que a programação vai começar na área externa do centro cultural com apresentação de canções que Tia Dulce entoava durante a Semana Santa.

Salvador ressaltou que dentro do Centro Cultural também vai haver atividades artísticas como exposição, leitura e vida cantada da homenageada. "Nós fizemos toda a programação com muito carinho e a intenção é incluir uma exposição artística que fique aberta a visitação pública por algum tempo. Não podemos deixar a data passar em branco. Tia Dulce é muito importante para Linhares", afirmou.

Centenário Tia Dulce Pestana
Data: 12/04
Horário: 19 horas
Local: Rua da Conceição – em frente ao centro Cultural Nice Avanza

Programação:
Apresentação de Músicas cantadas por Tia Dulce durante a Semana Santa
Exposição
Leitura sobre a vida de Dulce Pestana
Vida Cantada (história e carnaval)

Tia Dulce

Dulce Campos Pestana, a Tia Dulce, como era carinhosamente conhecida pelos linharenses faleceu no no dia 8 de dezembro de 2013, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Linhares. Tia Dulce residia na Rua da Conceição, rua que foi o berço da cidade de Linhares. Da janela de sua casa ela viu o pequeno povoado crescer e se transformar em um dos municípios mais importantes do Estado. Abaixo, segue uma pequena biografia, feita pela própria Tia Dulce.

"Os primeiros moradores da casa onde moro foram membros da minha família. Meu pai, o senhor Talma Drumond Pestana, minha mãe, a senhora Ermelinda Campos Pestana, ambos nascidos e criados em Linhares, e mais quatro filhos, sendo um irmão e três irmãs, contando comigo.
 
Nasci nessa mesma casa pelas mãos da parteira Cesária. Hoje, a casa não é mais a mesma porque passou por várias reformas. Linhares, quando vila, não tinha luz elétrica, água encanada e nem esgoto, era totalmente atrasada. Meu pai, Talma Drumond Pestana, foi o primeiro médico e o primeiro dentista prático da pequena Linhares, onde um cômodo de sua própria casa era usado para as suas consultas.

Quando criança, brincava de rodas e corria atrás de vaga-lume à luz da lua por falta de energia elétrica. A primeira luz elétrica foi a ‘locomóvel’ (motor), que funcionava das 18h às 21h. Quando fazíamos festas, pagávamos a pessoa responsável que ligava e desligava a luz a motor para ficar até mais tarde, mas antes da meia-noite.

As mulheres ficavam em suas casas, cuidando de seus afazeres, enquanto os homens plantavam em suas próprias roças. Quem não tinha terreno, trabalhava em seu próprio comércio ou trabalhava nas roças de quem tinha. As festas que eram realizadas na Rua da Conceição, geralmente, e eram promovidas nas casas das famílias que tivessem maior espaço. A maioria das festas era na casa do senhor Quincas (Joaquim Calmon, primeiro prefeito de Linhares), com músicas de vitrola que tocavam marchas, rancheiras e valsas.

Todos dançavam: solteiros, casados, tudo com o maior respeito. As moças iam acompanhadas por seus pais. Quando chegava a hora de ir para casa, bastava apenas o olhar do pai, que a moça já sabia a hora de ir embora. E as festas da igreja, que geralmente eram realizadas no mês de maio e dezembro, eram acompanhadas por procissões. No carnaval eram blocos que iam para a rua e o baile era na casa do senhor Quincas. Em frente à sua casa tinha o encontro dos blocos com estandartes.

Os blocos eram o Padorada, Boa Vontade e Reunidos. O lança-perfume era usado para se perfumar. Jogávamos nas roupas. Naquela época não tinha violência, era tudo muito seguro. Todas as noites sentávamos nas calçadas para conversar e contar histórias.

A Rua da Conceição não tinha calçamento, era capim onde os bois pastavam. As casas de telhas eram poucas, havia mais tapera com telhado de palha.

Hoje em dia mudou praticamente quase tudo, não é mais a mesma rua. A Praça 22 de Agosto era um campo de futebol, logo depois foi construído um jardim de infância chamado Menino Jesus e também havia bichos enjaulados. A praça foi aberta no tempo do Senhor Antenor Elias e dei aulas no jardim. Muitas daquelas crianças para quem dei aulas hoje são médicos, advogados, dentista, professores… A Praça foi cercada com o governo de Luiz Durão e onde é o arquivo era o quartel com apenas um soldado e sua família. Onde hoje é a academia Espaço Fitnes, era um armazém do Senhor Antônio Azevedo, onde vendia comida, sapatos etc. Em frente à casa de Maria Tereza, era a venda do Senhor Genuário: Secos e Molhados.

Desde que nasci e me criei nessa rua, a Igrejinha passou por várias reformas. Ela era linda, toda esculpida em madeira… Naquela época, era eu e Aristolina que tomávamos conta da Igrejinha. Não havia padre, eram feitas ladainhas em Latim e Orações nas Quartas, Sábados e Domingos. Quando vinha algum padre aqui era para festa de primeira comunhão das moças de 15 anos, que geralmente eram feitas em 08 de Dezembro. Lembro-me que vinha um padre do Rio de Janeiro, o padre Bianor. Os santos que tínhamos na Igrejinha naquela época eram: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora auxiliadora, São Sebastião, São Benedito.

Quatro imagens antigas ainda existem na Igrejinha. Esses santos, nós mesmos, eu e Aristolina, fazíamos o pedido de compra na casa Suscena, no Rio de Janeiro. A partir do padre Aníbal que foram trocados as imagens pequenas pelas grandes, por ele se simpatizar mais pelas maiores. Recordo-me que na Igrejinha havia uma senhora que teve um filho com catapora e estava ficando cego. A senhora ficou tão desesperada que ficou dias com ele no colo e pedindo para Santa Luzia curar as vistas da criança ou pelo menos uma. Juscelei Gama recebeu essa graça de Santa Luzia e todos os anos em agradecimento ele fazia a procissão de Santa Luzia, carregando o andor e doou a Santa para Igreja.

Os velórios eram realizados nas casas dos familiares, os corpos eram velados geralmente na sala da casa sobre sua própria cama enfeitadas com flores. Quando iam levar o corpo para o cemitério era que colocavam o corpo no caixão. Algumas pessoas seguravam as alças do caixão e outras carregavam a tampa do caixão. Passavam pela Rua da Conceição e seguiam para o cemitério.

Linhares era uma vila e pertencia à Colatina. Um dia, o governador Jones dos Santos Neves mandou um telegrama, desmembrando Linhares de Colatina. E eu saí com esse telegrama mostrando a todos, correndo e gritando: Linhares agora é município, Linhares agora é município!"

Dulce Campos Pestana